domingo, 8 de abril de 2018

1998, Lula e a escolha por resistir...

    Talvez o que escrevo aqui, não agrade a muitos, mas sinceramente já aprendi que vale mais a pena viver o que se acredita, do que ser agradável permanentemente; em 1998, enquanto ia completar 17 anos, tomei consciência real do que era o Neoliberalismo, quando ouvi um papo dos meus pais, afirmando que tudo seria vendido em casa, para manter o básico para nos alimentar e prosseguir adiante; tempo duros aqueles, não só para mim, mas para milhões de brasileiros, que viviam de um modo miserável, nos rincões rurais e em diversos centros urbanos desse país. Tempos em que pobre não fazia faculdade privada e pouquíssimos entravam na Universidade Pública; tempos em que não existiam Institutos federais de ensino médio e que não havia gente saindo desse país, com apoio do Estado, para realizar pesquisas científicas; tempo em que meu pai sonhava em poder ter crédito imobiliário e sempre pulávamos de casa em casa; tempos em que o ônibus sempre era a única opção a se utilizar, tempos em que milhões viviam o reflexo dos altos índices de desemprego e que o salário mínimo não valia mais do que 80 Dólares.
    Enfim, 1998 foi um ano complexo, mas ao mesmo tempo inesquecível: Diante daquela consciência que se formava em mim, eu também mergulhava no Rock e vivia minhas primeiras emoções sentimentais. Toda vez que toca uma música dessa época, eu lembro do início da consciência germinada na minha alma. Lembro que sonhava com um mundo melhor, lembro que me filiei ao PT e que chorei com a derrota, do hoje golpista Cristovam Buarque perante Joaquim Roriz aqui no DF, assim como chorei com a vitória massacrante comprada na base da mentira da fixação alienante do  Real, vendida por FHC, por bilhões de reais aos banqueiros da iniciativa privada. Nesse momento, via Lula perder pela terceira vez seguida uma eleição para Presidente do país. Bem, em 2002 o sistema Neoliberal se esgotou, pois ele é apocalíptico em si mesmo e uma hora a miséria é tão grande, que a massa desesperadamente busca outro caminho. Fiquei profundamente feliz ao ver Lula subir aquela rampa. Para quê falei essas coisas? Para afirmar a princípio, que convicções se formam no curso de nossas experiências existenciais e que durante a continuidade de nossa existência, podemos escolher ou não, ser fiéis a essas  crenças e assim definir quem somos de fato.
   Talvez não fosse necessário, mas cabe lembrar dos 30 milhões que saíram da miséria, lembrar das centenas de Institutos Federais e as dezenas de Universidades federais abertas, lembrar que 40 milhões de pessoas conseguiram suas casas, lembrar que o salário mínimo cresceu em quase 500 porcento em relação ao Dólar, lembrar que saímos da 17º economia para a 5° maior do mundo; lembrar que milhões puderam consumir e comer o que não podiam; lembrar que o aeroporto também era lugar de gente diferente, que um pobre ou preto pode e deve estudar em uma Universidade pública e lembrar que a dívida em relação ao PIB, caiu pela metade. Sim, você pode me dizer que o PT praticou conciliação com os banqueiros, que manteve a estrutura política tal como era e que nada avançou na direção da regulação do monopólio midiático existente nesse pais; pode até dizer que o PT manteve a lógica fisiologista do aparelhamento do Estado; sim, você pode sim, pois você tem direito de falar o que quiser, mas com toda sinceridade, me diga uma coisa: Quem manda de fato nesse país? Como leis podem transformar 500 anos de espoliação, miséria e desigualdade, com belos discursos éticos e uma boa intenção metafísica? Como isso pode ocorrer, diante de um país de pessoas alineadas, que nem sabem o que significa o maior câncer nacional e que gritam que o câncer se chama CORRUPÇÃO! balela de gente hipócrita, pois no fundo todos nós damos o nosso jeitinho diário para de alguma forma nos favorecermos e mais ainda, balela de gente que dominada pela mídia, crê que o Estado deve ser destruído pelo bem do interesse público. Sabe por quê isso é balela? É balela, pois o nosso câncer está no relacionamento do Estado com a Dívida comprada pelos banqueiros e rentistas, assim como na forma que o Estado perdoa e favorece os mesmos grupos financeiros, ruralistas e religiosos desse país. Não é o Estado que é o problema, mas o modo como ele se permite existir e você só pode ser covarde, alienado ou pilantra, se não quiser aceitar o fato.
  Quanta ilusão acreditar que alguém pode chegar a Presidência e mudar essa estrutura, sem um Parlamento que não seja cooptado por interesses próprios, sem ter que fazer concessões; sempre respeitarei Lula, pois no fundo ele produziu uma revolução material real e isso é inegável; prestem bem atenção que eu não estou defendendo uma prática, mas sim deixando claro que o mundo real nos impõe ações possíveis, pois esse projeto de país que somos, não está minimamente pronto para uma revolução real e popular, já que metade da população, ainda alimenta sua mente com a Rede Globo e tem como ícones, juízes treinados pelos americanos e a Polícia Federal como estandarte da moral e da eficiência, sendo essa mesma Polícia, aquela que é diretamente associada a muitas das ações do crime organizado e do tráfico de armas desse país. Esses são os heróis de um povo perdido em sua própria incapacidade de perceber quem é quem, no jogo dos interesses presentes. 
  Diante da condição inconstitucional que permeou todo o processo contra Lula, diante da imaterialidade factual de um crime, diante do tratamento singular e perverso conduzido por esse famigerado juiz de Curitiba, associado a uma violência sem precedentes aplicada pela grande mídia, diante do silêncio e da seletividade de uma massa branca vestida da camisa da CBF, diante de toda a nossa omissão, que não fizemos nada e em casa ficamos, contemplando o espetáculo que se revelava diariamente sobre nós, diante da mesma e velha desculpa da mágoa ao PT, aqui estamos nós, contemplando o assombro neoliberal e quem sabe a permanência de muitos outros 1998. O fato é que  tenho críticas ao PT e ao próprio Lula, mas ainda sou fiel ao que cria em 1998, pois no fundo, não se trata do Lula tão somente, mas de uma ideia e de uma forma de ver a sociedade. Para você que vive falando de um país melhor, que vive criticando políticos e que considera que tudo está perdido, a dica é se lembrar  de suas próprias contradições, como diariamente, eu analiso as tantas que tenho.
    O inimigo é a estrutura e Lula se opôs de um modo próprio a ela, por isso foi simbólico o que ele fez em Sorocaba e a narrativa política segue um outro rumo em 2018, aonde aqueles que lutam contra a injustiça social e sonham com uma verdadeira Democracia, não irão se ausentar da parcela que lhes cabe e da luta que se apresenta. Que saibamos decidir do modo correto em cada esfera das cargos legislativos, que toda a esquerda e que os defensores da soberania nacional, se unam em direção à resistência permanente e que os nossos 1998, permanecem vivos em nós; que cada mente e coração conquistado, seja uma parcela indestrutível de nossa participação em algo que vai além das quimeras midiáticas sobre o bem público e o interesse comum, já que o verdadeiro interesse comum, deve e pode ser desenvolvido por cada um de nós. 
     
  Por fim, deixo versos de uma música muito importante para mim, do Dead Fish:
    
"Paz, força, coração, vida, amor e libertação
 Um desejo incontido nas cabeças do 3° mundo
 Tudo isso virá, se pudermos perceber
 Que amar, viver e cantar, não será em vão"...

5 comentários:

  1. Meu amigo! Você me inspira�� pensando sempre! Bjs e obrigada todo dia!!!!������������

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  2. Meu amigo! Você me inspira�� pensando sempre! Bjs e obrigada todo dia!!!!������������

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  3. Muito bem escrito , realmente o mecanismo político e os interesses por trás da prisão do Lula são mais complexos doq uma análise superficial pode indicar , porém agora com a história já escrita só nos resta conspirar por eleições menos midiáticas e mais políticas e por políticos mais transparentes em sua planilha de ação.

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  4. Muito bom , gostei falou tudo que muitos não estão enchergando , muitos estão com a verdadeira máscara colocada pela próprio Rede Globo.

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  5. "Bem ditas" palavras, Bruno! Impossivel não fazermos uma reflexão da atual conjuntura. Não se trata de sermos coniventes, "adotarmos um político corrupto de estimação" como dizem por aí. Só quem consegue entender a dinâmica política/social tem clareza de que se trata da defesa de interesses políticos. Assim como entende perfeitamente de onde vem essa força das pessoas corajosas que não aceitam tal narrativa sem analisar toda uma jogada armada e resistir. Depende de todos nós a possibilidade de uma reversão, bem próxima, do quadro político/econômico/social do nosso país! No entanto com essa divisão política parece uma realidade tão distante! Ab.!

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