domingo, 28 de maio de 2017

Um dia bom...


Era um dia chuvoso, era simplesmente um dia qualquer
em minha alma deslizava o nada circundante, o vácuo nadificante
a poeira permitia com que me firmasse no vazio da percepção
e o dia se espreitava, entre vozes desconexas, no invólucro da solidão

Cada passo e cada escolha, rejeitavam a mutação
todo vento e toda proa, fortaleciam a fragilização
em seu olhos, um mistério, uma simples indefinição
no meu peito, um nada antes, um nada sem projeção

Todavia, o dia não é uma mera dimensão temporal da matematização
e em algum momento, ainda nesse dia, algo novo, algo velho, algo simples
algo intenso, algo além, algo do porém, veio ao encontro, veio sem petição
a voz é forte e a alma percebe a profundidade de sua interação

E o tempo escoa, mas aquela proa seguiu outra direção
agora o medo é  um adorável companheiro, uma adorável afirmação
de que não há medo, que por causa do medo, rejeite o seu fluir
pois se sopra forte, deve ser vida e não morte, que há ali

E o dia segue e ele é mais extenso do que essa mania temporalizante
ele é o dia em que uma alma, se afirmou livre para contemplar o ontem
o ontem está aí, o ontem é o dia de hoje, é o dia sem fim

Quanto ao tudo, isso está em tudo, sem nunca me destituir
pois estamos um em dois, dois em um, mesmo que o limite sempre esteja lá
então é isso, então é aquilo, então, que se deixe amar

E o dia segue, não mais inerte, um pleno dia bom
ele é o dia que não acaba, pois vivifica o coração
agora o vento e a proa afirmam a liberdade
que está no hoje, que faz de tudo, uma constante e maravilhosa saudade...