sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A culpa é do PT, mas a resposta não tem que ser o impeachment.


    Uma sociedade em crise, não é uma sociedade necessariamente firmada na crise econômica, ou mesmo, no artefato do desenvolvimento produtivo, como costumeiramente o poder midiático, assim como o senso comum liberal e capitalista, costumam afirmar. De fato, seu eu pudesse ser o guia de viagens de um marciano que se dispusesse a conhecer o Brasil, assim como a beleza da condição humana, veria um extraterrestre estupefato e ao mesmo tempo resignado com a inócua e decadente noção humana de desenvolvimento individual e coletivo que temos. Depois de um bom suco à beira mar, esse mesmo marciano facilmente me perguntaria como tornamos o óbvio, em um inacessível segredo de outra dimensão supra-sensível, distante do tato comum da existência humana.
    Aonde está a crise? seria essa a sua pergunta? acho que não; creio que perguntaria o seguinte: Aonde está a capacidade de distinguir o real do manipulável? Caminhamos pela estreita dimensão do engano reflexivo, aonde um país e seu desenvolvimento, se fazem a partir de tecnologia, produção, capital e consumo. Essa é a mais decadente das mentiras liberais e olha que eu sou um defensor do liberalismo civil e creio na sua aplicação diante de práticas de um Estado, que sejam de ordem comunal, voltadas a um nivelamento mais justo das realidades sociais aí existentes. Enfim, as mentiras não são percebidas, pois não há a mínima noção de desenvolvimento humano  que possa nos retirar dessa engrenagem maléfica e aprisionante, do círculo vicioso de nossa realidade política e de Estado.
     Se existe uma coisa que não suporto, mas que entendo a origem, é o tal convencionalismo radical da bipolaridade dos debates realizados nesse momento que vivemos. Como é enfadonho ver brigas homéricas que supostamente defendem modelos distintos  de poder, mas que no fundo não defendem a humanidade de nossa coletividade e não me venham encher meus testículos de ar, através da ladainha do combate à corrupção ou das amostras contínuas de quem roubou menos ou mais. Só em uma sociedade doente, esse debate permanece; Somos doentes ao extremo, tão doentes que não percebemos a doença de nossa insuficiência crítica, já que exigimos da classe política o que mal conseguimos fazer em nossas vidas privadas, que é ser ético de modo categórico e universal. Todo brasileiro deveria entender o que Kant falou sobre liberdade racional, mas como isso não vem ao caso, cabe afirmar que essa ladainha motivada e sustentada pelo poder midiático de esquerda e de direita, é poderosa, pois somos medíocres e como disse o marciano, não sabemos distinguir aquilo que é real.
     Para que não pareça um texto vazio, com chutes no vácuo, ao tomar o tempo do leitor, seja quem for, o que quero resumidamente afirmar é que a riqueza de uma Nação se faz unicamente pelo desenvolvimento humano e nesse ponto minha crítica é direta aos defensores inveterados da política de Estado do PT. Queria lembrar aos mesmos, que muitos não têm sequer a noção do que Marx quis dizer com sua exposição do que seja "socialismo", já que erroneamente, os amigos vermelhinhos, costumam associar eloquentemente esse conceito com controle do Estado. Não amigos, o controle em Marx, é dos trabalhadores e pelo o que sei, os trabalhadores são o povo e mais, a Ditadura não é do Estado sobre o povo, mas sim do povo por ele próprio, ou seja, do povo em direção perpétua a si mesmo. Talvez um dia, quem sabe, o PT entenda o que foi a Comuna de Paris e assim recomece aquilo que nunca começou, ao chegar ao poder.
    O povo não precisa de renda perpétua, ele precisa de emancipação, que é a verdadeira riqueza perpétua; Não é o consumo que transforma, por mais que seja imprescindível, a continuidade de politicas sociais que reduzam a pobreza, aliás, o que tem de pobre nesse país, que se tornou classe média e que esqueceu que foi pobre, é uma enormidade! Mas de qualquer modo, tudo que falo é simplesmente envolto na questão da emancipação, coisa essa que o PT infelizmente nunca ofereceu. Se o Marciano estivesse aqui, ele falaria para você PT, que a culpa é sua e somente sua e ele estaria certo, pois para um partido que começou com as ideias que teve e com a consciência social que o motivou, é muito pobre não conseguir admitir ou entender, que a culpa não é da grande Mídia ou da oposição ardilosa, pois ambos são como vômito de porco e não mudarão o que são, a culpa é sua, pois para combater o ilusionismo do discurso de mercado, de inflação, do dólar alto e de todas essas mentirinhas neoliberais, é preciso ensinar o povo a pensar, pensar além das aparências e isso só se faz quando o projeto de Estado é um projeto de formação da consciência.
    Para concluir, quero lembrar que formação de consciência não é aumento de acessibilidade, pois quando o que é acessível não produz consciência, o que há é um aumento da imbecilidade técnica e profissional, regada à ficção da felicidade em consumir. Como é pobre uma Nação, que permite pessoas se formarem para consumir, somente. Ah, como ela é pobre! A pobreza reflexiva é tão caótica, tão caótica, que impede as pessoas de entenderem, que suas vidas devem ser dirigidas ao bem comum, que seus talentos devem ter finalidades coletivas e que suas ideias, podem ser diferentes e mesmo assim, quando conjugadas se tornam o mecanismo vital no processo do alcance desse bem comum. Faço um apelo a você que ler esse texto: Não se dedique à Democracia, lutando por imbecilidades partidárias, se dedique a ela, sendo agente de sua comunidade, sendo participante de novas realidades, repensando o modelo político que temos. Ainda dá tempo de entender quem de fato tem  o poder; é necessário aplicar progressivamente e de modo celular essa ação. O marciano estava certo, pois somos um país rico em sua formação étnica, rico em suas riquezas naturais, rico em diversidade cultural, mas que ainda não percebeu que é muito, muito pobre, em sua materialização humana. A culpa é do PT, mas a resposta não é o impeachment, a resposta é a consciência e somente ela nos fará sermos representantes de nós mesmos, assim como representados por uma nova estrutura política formal, que será fruto de nossa consciência. Não sei quanto tempo isso vai durar, mas quem sabe uma dia, eu realmente converse com um marciano e até la, o teor do diálogo seja será diferente, bem diferente.