sexta-feira, 25 de março de 2016

Que venha o ano de 2018


  Esses são dias representativos de nossa infantilidade democrática, de nossa profunda e quase irrevogável fragilidade auditiva, de nossa clara amnésia histórica e além disso, são dias que comprovam como a nadificação de nossa alteridade, alcançou níveis quase que insuperáveis; enfim, no meio dessa totalizante perda do exercício racional de nossa condição humana, muitas reflexões advieram sobre minha mente e nelas, muitas inquietações interiores se revelaram. Diante de tantas análises que podem ser realizadas em meio ao núcleo caótico da divisão estabelecida pelo momento político atual, decidi refletir algumas questões; não me preocupo com as manifestações que hajam de quem quer que seja, no sentido de adesão ou contrariedade ao que exporei, todavia, não posso me abster do exercício crítico, pois como nos ensinou Hannah Arendt, uma vida ativa, pode ser também uma manifestação permanente de nosso exercício de interpretação do mundo, pois o que adiantaria um ativismo opaco e desorientado, quando em nossa condição humana, o que precisamos é antes de tudo, refletir sobre a natureza do que queremos transformar, assim como daquilo que queremos tão somente confrontar. A missão é sempre buscar a materialidade dialética do diálogo e com isso elencarei três elementos para a reflexão:
1) A semelhança histórica entre as formas de destituição do poder, operadas em 1954 e 1964, se apresentam com todo vigor por meio do processo de controle e propagação midiática dos últimos tempos. Não é uma questão de se escolher ser contrário ou defensor do governo do PT, que aliás é consideravelmente culpado em não avançar na pauta da estratificação do controle oligárquico da mídia brasileira, mas sim em usar o mínimo de nossa inteligência crítica para verificar como a mídia de massa, a que age para coisificar, adestrar e domesticar mentes, tem se mobilizado ferozmente nos últimos dias. 
  Pessoas são insufladas a lutarem contra um inimigo comum, inimigo esse, considerado ser o governo petista, perdendo a capacidade de entenderem o perigo que lhes cerca em serem doutrinadas e arremetidas a agir por meio de uma grande campanha publicitária e midiática, que tem como eixo central, desmobilizar a alteridade do discurso, em vista ao império da totalidade unitária do pensar e da ditadura do olhar. Essa imposição monolítica do discurso, da pretensa culpabilidade pública, é associada ao cancerígeno sentimento histórica das elites e de uma própria classe média, que em considerável medida, nunca entenderam ou se comprometeram com a diminuição real das desigualdades e com nosso legado de exclusão histórica. Elas reivindicam a nobreza da probidade da ordem pública, mas nunca entenderam a dimensão real dos termos "bem comum" e "democracia". 
2) Há muito tempo algo me inquieta em uma figura pública e da mídia brasileira, que é o jornalista da Band, Ricardo Boechat; de fato não me preocupo com seus silogismos variantes entre as críticas deslocadas a eixos diferentes da questão da corrupção no Brasil, até porque tenho um grande apreço por muitos elementos do seu trabalho jornalístico e falo isso de forma sincera; principalmente em relação ao modo aberto como expõe seus pontos de vista e seu ótimo senso de humor, todavia a ideia de que a política pública é um mundo apartado da realidade do trabalhador brasileiro, como se o mesmo fosse uma referência concreta de uma vida em busca do comprometimento ético, me parece um tanto quanto falha. Bem, se fizermos uma análise simples do que nos é corriqueiro e contínuo, perceberemos, em todas as classes sociais e em todas as formas de cor e de ser, que há me nós muito mais do DNA da canalhice, do que se possamos imaginar. 
   São tantos hábitos e condutas que afrontam a prática do esforço ético, que tentar construir divisas mundanas entre o que é feito na esfera privada e pública, me parece ser um reducionismo capaz de auxiliar na obstrução de reflexões mais profundas sobre nossas práticas corriqueiras. Um país depende de formação ética para se tornar uma Nação e depois que uma Nação se materializa, as questões de Estado passam a ter uma outra dimensionalidade. Não acredito em discursos midiáticos que reivindicam probidade tão somente de políticos que só representam a mazela plural de nosso existir ético. Detalhe: Um país não educado, nunca vencerá a corrupção com a punição, pois a punição é elemento posterior à formação. Está na hora de discutirmos nossa formação e não de considerar a "Lava Jato" patrimônio de nossa história. Dar murro em ponta de faca, parece ser o fardo de nosso enfadonho discurso moralizante e supostamente ético, atribuir aos outros nossa responsabilidade no curso de muitos diante das práticas públicas, também demonstra uma pitada de hipocrisia permanente e nos faz girar em torno de um rabo curto demais para ser sentido.
3) Por último, afirmo contundentemente que exite um câncer, advindo do modelo político do nosso país e que tentar mudar personagens de um jogo viciado, é prova de mediocridade intelectiva; sem esquecer é claro, que até o presente o momento não há um motivo real que permita pensar na queda da presidenta e isso falo com plena convicção. Há muitos magoados com o PT e eu entendo a mágoa, mas vou fazer uma pergunta: Afrontar a decisão democrática realizada em Outubro de 2014, é algo legítimo? A Presidente fez o quê para você falar de Impeachment? Não tecerei comentários sobre outras figuras políticas do PT, pois acredito piamente que muitos desse partido, aceitaram sim a correlação com a jogatina política exercida nesse país, mas em relação à presidenta Dilma, o que realmente está em jogo? Seja capaz de me responder e eu ficarei feliz, pois como falei no início do texto, são só meras reflexões que faço.
    Caio Prado afirmara que nosso país não é nada dialético e o nosso saudoso Celso Furtado, assim como Darcy Ribeiro, deixaram suas reflexões sobre o que significou o golpe de 1964. Quantos avanços foram  barrados e trucidados pela marcha da insanidade e do interesse real do capital especulativo, assim como do governo estadunidense, Quantos sonhos se esvaíram nas periferias urbanas, nas entranhas dos sertões e redutos agrários, das populações ribeirinhas, das comunidades indígenas, do negro brasileiro, em nome dos interesses de um modelo neoliberal que só afirma a morte da entidade humana. Sabe, eu concordo que na prática, a gestão PT retrocedeu e se entregou em determinadas situações ao mais do mesmo de nossas mazelas político - sociais, mas ninguém irá me convencer que retirar esse governo nesse momento, fará bem a esse país, pois só nos meus piores pesadelos, o PMDB  e o PSDB costumam aparecer. Só em meus piores pesadelos, o meu país avança por causa de preço de dólar ou por mentiras econômicas do capital especulativo. Eu nunca vi o neoliberalismo, em uma democracia raquítica, aonde não há espaço para o plural, ser capaz de atender as dores dos extirpados de nossa ordem social.
     Que a democracia possa avançar um pouco mais, com a vitória da legalidade e da vontade das urnas, que o PT arque sim, com as consequências de boa parte da perda de seu fundamento ideológico, mas que as reflexões necessárias sejam realizadas e que possamos avançar, não por meio desse discurso mentiroso e enganoso do "crescimento econômico" e do "consumo", pois precisamos ser Nação, precisamos resgatar novos debates e reflexões entre a própria esquerda brasileira. Em nome do poder não se poder criar uma suposta primazia do PT, pois o Brasil é maior que ele e os sonhos de justiça social não se reduzem ao mesmo. Enfim, não aceitaremos mais um golpe à democracia, mas chegou a hora daqueles que lutam pelo progresso social e comunal, se organizarem, dialogarem e se disporem a derrubar a força das presentes e futuras derrocadas neoliberais, pois o que está em jogo, é nossa soberania e ela não pode ser afrontada pelo maquiavelismo do grande capital. Ele existe amigo, ele é cruel e mortífero! Viva ao nosso país e que ele possa ser Nação, viva à vontade popular, viva ao que é justo e que em 2018 possamos, quem sabe, construir novas formas de avanço e de desenvolvimento humano.