sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Eu preciso do outro, eu preciso de você


Deitei e tive um sonho
Um sonho simples, o meu sonho
Lá o ódio não era uma necessidade e nem era naturalizado
Lá o outro, era somente o outro 

Naquele espaço mental, de modo algum, eu não categorizava o outro
Nesse sonho, a voz do outro era respeitada por ser somente sua própria voz
Era um sonho aonde o outro era somente sua consciência e eu não tentava negar a sua própria construção
Ainda nesse sonho, eu percebia que estar diante desse outro, era estar diante do meu maior desafio, do meu real chamado

Nesse sonho eu percebia que minhas palavras não devem legitimar a negação do outro
Nesse sonho eu percebia a vitalidade de respeitar o limite e a escolha do outro
Nesse sonho eu não via o outro como um inimigo a ser vencido ideologicamente, pois não há vitórias na relação entre as nossas diversidades, assim como não há prazer em impor qualquer tipo de submissão
Nesse sonho eu via a equanimidade de nossas fragilidades, a claridade de nossas imperfeições, a inconsistência de nossa frágil violência

Quando acordei, eu me olhei no espelho e as lágrimas se revelaram
Não chorava por mim, mas pela negação que insistentemente faço desse outro
Chorava, pensando nas inúmeras vezes em que me considerei detido pelo valor da verdade, pela necessidade de ser reconhecido através do poder da submissão sobre o outro, através dos elogios multiplicados, que ocultavam a negação concreta de minha conduta em direção ao que é humano.

Agora o dia está perto de acabar e eu sei, eu sei
Que minhas palavras vazias, podem e devem ser substituídas pelo esforço e pelo compromisso com a face daqueles que me cercam
Não importa o conteúdo imanente à identidade dessas faces
Não importa a conduta intrínseca à manifestação dessas faces

Na verdade nada mais importa do que a materialidade ética da minha consciência, assim como a assunção real de minha responsabilidade
Qual seria essa responsabilidade?
Não sei dizer, pois agora as certezas não importam

Na verdade, aquilo que importa, está na minha existência diante do outro e lá, diante dele, no momento crucial do meu ser aí no mundo, eu verei
Eu verei, que na verdade, a missão que permite o início de nossa autêntica condição humana, é a missão baseada em práticas simples, mais irrevogavelmente frutíferas
Lá, diante dele, poderei ver  a mim mesmo e vendo a mim mesmo, verei a ele do modo como ele tem que ser; um outro em si próprio

Toda vez que eu estiver diante desse momento e que puder mergulhar em mim mesmo, diante do outro, eu verei que é preciso silenciar, ouvir e continuar, é preciso silenciar, ouvir e continuar
Silenciar, ouvir, continuar e recomeçar; silenciar, ouvir, continuar e recomeçar

Eu sei, ainda há tempo para prosseguir
E eu preciso de você, eu preciso prosseguir com você...